domingo, 14 de julho de 2013

Um parecer

 A postura do astrólogo

A
s mesmas energias que existem no Universo Astrofísico e que se conformam e se comportam como Estrelas ou Planetas, existem, paralelamente, no nosso universo bio-psico-mental-espiritual.
Isso é ainda o que não compreende a grande maioria dos clientes que hoje recorrem aos nossos serviços.
Devido à ênfase excessiva dada ao Signo Solar pelos jornais, revistas, almanaques, etc., sem preocupação com maiores esclarecimentos, no intuito único de abranger o maior número possível de leitores (categorizados, simplistamente, em doze tipos) – nosso cliente, na maioria das vezes, chega totalmente ignorante e despreparado para abordagem do intrincado complexo que é o seu mapa natal – expressão gráfica, aliás, da sua riqueza interior.
Isso nos mostra que a Astrologia não escapou à sanha de oferta para consumo inconsciente de qualquer produto ou informação.
Superficialmente, alguns já ouviram falar em Ascendente, naqueles bate-papos de “astrologia de salão” – mas não têm a menor idéia do significado deste termo ou da verdadeira importância de seu conceito.
A maioria vê-nos como seres vagamente misteriosos, donos de um saber incompreensível, capazes de adivinhar o futuro por meio de uns rabiscos cabalísticos colocados num emaranhado indecifrável. E, como ovelhas que se entregam ingenuamente ao abatedor, eles se colocam em nossas mãos, com uma confiança comovente, como se fôssemos magos poderosos, fadas madrinhas generosas a conceder tronos suntuosos, príncipes encantados, poderes ocultos que os farão daí por diante amados, ricos, sábios e felizes.
Mesmo sem o querermos, isso vai adulando o nosso ego e nos faz sentir-nos seres superiores, donos de um conhecimento vedado à massa plebéia e sofredora. É bom lembrar a eles – e  a nós – que a Astrologia faz magia, e não mágica – sendo que magia é a conquista de si mesmo, empreendida arduamente por cada um, enquanto que mágica é apenas uma destreza manual para distrair convidados em festinhas de salão.
Por isso, todo cuidado é necessário conosco mesmos como meros intérpretes da linguagem dos astros – e não seus proprietários.

A apresentação pessoal
A indumentária do Astrólogo deve ser discreta e de bom gosto; seda, linho, algodão, lã de cores claras (com muito violeta) são recomendáveis; convém evitar trajes muito “típicos”: túnicas, káftans, kimonos, saias ciganas, etc. fazem-no correr o risco de estigmatizar-se e estereotipar-se. O mesmo pode ser dito a respeito de adereços, como jóias, bijuterias e perfumes. É bom lembrar que a entrevista não é uma cena de ópera e que o hábito não faz o monge.
Além disso, se quisermos ser coerentes conosco mesmos, temos que nos esforçar, em primeiro lugar, para vivenciar e empregar em nosso trabalho as melhores energias de cada um dos Astros do céu: a luz e o calor do Logos Solar que nasce para todos – justos e pecadores; a imaginação delicada e criativa da Mãe Lua; a habilidade lógica de Mercúrio; o senso estético de Vênus; o dinamismo de Marte; a esperança e a caridade de Júpiter; a responsabilidade e a seriedade de Saturno; a intuição e a capacidade de síntese de Urano; a empatia, a sensitividade e a inspiração de Netuno; e o poder de recuperação e renascimento de Plutão.
Também temos de expressar a conexão interna e a sabedoria dos doze arquétipos do Zodíaco: a energia  e a autoconfiança de Áries temperada pelo equilíbrio e a diplomacia librianos; a concentração taurina na realidade palpável junto com a percepção escorpiana dos tesouros intangíveis e recônditos; a flexibilidade de Gêmeos unida ao idealismo e à didática de Sagitário; a capacidade canceriana de nutrir emoções conciliada à racionalidade capricorniana do dever; o brilho e a competência organizacional de Leão sem rejeitar a visão anárquico-progressista e democrática de Aquária; o privilégio da dúvida presente em Virgem sem desprezar a imensa fé no ser humano tão comovente em Peixes.
É preciso não esquecer ainda que nós, Astrólogos, somos, antes de mais nada, Servidores. E o Serviço é um Ser-viço. E o Serviço é uma honra e um privilégio que o Céu nos concede e pelos quais devemos ser sempre gratos e dos quais ser sempre dignos. É uma Missão que aceitamos espontaneamente. O serviço é sempre humilde – no sentido de reconhecer que nunca sabemos tudo e que, sempre haja quem saiba menos, sempre haverá quem saiba mais; e que isso nos transforma no elo de uma imensa corrente cósmica; que os desígnios de Deus são insondáveis e que, portanto, nem tudo nos é revelado.

O ambiente de trabalho
Não é apenas a missão de Astrólogo que implica em uma postura que exige competência técnica e ética profissional, mas também atitudes interiores de meditação e reverência para com os símbolos sagrados, para com a Criatura e principalmente para com o Criador. O gabinete de cálculo e desenho de mapas astrológicos, bem como o consultório para interpretação, também exigem alguns cuidados que outras profissões não requerem.
A limpeza escrupulosa da sala, o silêncio, o recolhimento, o perfume do incenso, a vela amarela acesa todas as quartas-feiras, à hora do Mercúrio, a oração antes de penetrar no sacrossanto mistério de uma alma através do cálculo e do desenho astrológico são não somente aconselháveis, como até imprescindíveis para um bom trabalho.
Elas predispõem à concentração reverente que é preciso adotar quando se trata de lidar com a revelação astrológica. Como preparação para o trabalho, aconselho o emprego de Bênçãos diversas, conforme vem recomendado no livro “Ritual de Magia Divina”:
“As orações designadas para benzer ou abençoar as coisas destinadas ao nosso uso, têm grande valor, pois lhes dão um poder benéfico e útil para o fim que lhes destinamos. Os objetos, assim abençoados, constituem uma espécie de talismãs, impregnando-se de forças benéficas atraídas pela nossa prece. Eles se tornam, assim, transmissores de energia e saúde, produzindo resultados benéficos sobre ao que o recebem ou possuem. (...) À mesma teoria das bênçãos pertence ao sistema dos (...) primitivos magistas cristãos.”
Lápis, borrachas, fichas de cálculo, réguas, velas, incensos, etc. podem ser “preparados” através da seguinte fórmula empregada por aqueles magistas:
...(nome do objeto), eu te preparo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que me sirvas... (designar a finalidade).
Essa singela bênção não apenas magnetiza nosso material de trabalho como também já eleva nosso espírito para a execução de nosso serviço.
Para elevar nossa mente á altura do trabalho que estamos prestes a realizar, sugiro a seguinte bênção antes de iniciá-lo:

O Pai que está em mim dirige-me neste trabalho que vou realizar
para que possa ser  proveitoso e feliz.
O poder de Deus se manifesta através de minha inteligência
e do meu corpo para a realização perfeita deste trabalho.
O amor, a onisciência e a onipotência de Deus
guiam-me para fazer só aquilo que é reto e proveitoso,
e afastam-me de tudo quanto me possa ser prejudicial.
Todos os meus atos são conformes com a vontade do Pai que está em mim
e exprimem a Infinita Sabedoria que habilita no meu coração.
Também o consultório precisa ser magnetizado para criar o clima que conectará não apenas a nossa mente, como também a do consultante, com o Macrossomo. No consultório, despedem-se as almas tímidas, expõem-se as feridas escondidas, descobrem-se os talentos ocultos, partejam-se os cristos-meninos. Quem conhece a técnica do Parto Leboyer – que recomenda meia-luz, silêncio, calma e delicadeza no momento do “nascer sorrindo”, pode compreender melhor o ambiente das entrevistas de aconselhamento astrológico.
O equilíbrio, o bom gosto e a harmonia venusianas são as mais recomendáveis. Há hoje em dia uma tendência de criar um cenário pesadamente “místico” que caricaturiza o gabinete, em vez de caracterizá-lo, e que precisa ser evitada: um excesso de véus, velas, imagens, gravuras, incensórios, cristais, cálices, espadas, plantas, símbolos cabalísticos, etc. é obsoleto e revela um discutível gosto suburbano – tanto quanto seria um astrólogo que se apresentasse com manto e turbante, ou capa e chapéu cônico.
Para magnetização do ambiente é suficiente que os quatro elementos estejam representados:
Fogo(ao sul) para o que é suficiente uma vela, de preferência violeta, magnetizada, quando acesa, com a bênção dos magistas cristãos, anteriormente mencionada; a vela deve ser despojada de sua embalagem de celofane e colocada numa cânula apropriada, sobre cuja superfície pode ser pintada a figura de uma salamandra, ou o símbolo do naipe de paus, ou o GLIFO alquímico do próprio elemento.
Terra(ao norte) um vegetal, de preferência com propriedades protetoras (espada de São Jorge, comigo-ninguém-pode, etc.), plantado num vaso de cerâmica (em cuja superfície pode ser pintado o símbolo do naipe de Ouros, ou o glifo alquímico do próprio elemento); ou cristais dispostos com bom gosto num recipiente delicado; ou um gnomo; ou um pedaço de madeira; ou um vaso com flores (de preferência rosas, sempre frescas, uma branca [paz, corpo espiritual], uma amarela [comunicação, corpo mental], e uma vermelha ou rosa [amor, corpo astral].). (Com bom gosto, pode-se combinar todos os elementos: uma tina de madeira contendo um vegetal plantado, com um pequeno gnomo e alguns cristais dispostos ao redor de seu caule. Dependendo do tamanho do ambiente, pode-se ter um gnomo daqueles de jardim, em cujo carrinho pode estar plantado o vegetal.)
Ar (a leste) uma vareta de incenso (colocada num incensário que pode ser a figura de uma fada ou um silfo, ou o símbolo do naipe de espadas, ou o símbolo alquímico do próprio elemento). Acesa instantes antes da entrevista, de aroma discreto e adequado ao fim a que se destina (o de rosas sempre harmoniza o ambiente), ou escolhido de acordo com o dia da semana e o Planeta que o rege, conforme o quadro abaixo:
Segunda-feira.........
¡
Dama da noite, jasmim; benjoim
Terça-feira............
¥
Canela, cravo, absinto
Quarta-feira ..........
£
Verbena, alfazema, estoraque
Quinta-feira ..........
¦
Violeta, mirra, aloé, cardamomo
Sexta-feira ............
¤
Rosa, camélia, amêndoas, hortelã
Sábado .................
§
Vétiver, âmbar cinzento, raízes
Domingo ...............
¢
Heliotrópio, açafrão, camomila, louro

Água – (a oeste) um cálice ou uma jarra de cristal (em cuja superfície pode ser pintada uma ondina, ou o símbolo do naipe de copas, ou o glifo alquímico do próprio elemento) com água pura, que deve ser trocada após cada entrevista.
Se pequeninos, tais objetos podem ser dispostos sobre um aparador ou uma mesinha que desempenhará o papel de altar. Sobre a mesa do astrólogo (de preferência com tampo circular) pode ser colocada a estatueta de algum dos deuses gregos alusivo a um dos Planetas; ou uma pirâmide, de preferência de cristal, uma vez que esta prescinde do cuidado de orientá-la para leste. È desaconselhável a presença de muitos objetos sobre a mesa, uma vez que esta deverá conter o aparelho de som para gravar a entrevista, caneta, bloco de anotações, agenda, etc., além do mapa que vai ser interpretado. Três cadeiras são suficientes: uma para o Astrólogo, e as demais para o cliente, no caso de vir ele acompanhado de outra pessoa.
As paredes, de cor clara (cuja  pintura deve ser freqüentemente refeita para limpeza física e astral), podem conter quadros com mandalas, efígie do Mestre em quem o Astrólogo se inspira, ou outro tipo de gravura condizente com o trabalho ali realizado (Tao-Tchi-Tu, Zodíaco, Árvore da Vida, Pentagrama, Eneagrama, Estrela de Davi, etc.) – sempre respeitando o equilíbrio, a harmonia, o bom gosto. Sobriedade é mais elegante e causa melhor impressão do que exagero e os adereços servem para compor o ambiente e fornecer o “clima” para a concentração necessária à entrevista, e não para dispensar a mente e despertar curiosidade ou desconfiança.
Se o Astrólogo possui muitos elementos místicos (quadros, imagens, estrelas, estampas, etc.), será necessário fazer uma triagem e selecionar apenas alguns que poderão, então, ser alternados de tempos em tempos.
A música ambiente, do tipo New Age (Nova Era), tocada em baixo volume, junto com o perfume do incenso e as cores do recinto (em tons pastel), acrescido à apresentação do profissional de Astrologia, no entanto, servirão apenas para envolver um trabalho cheio de respeito e reverência ao Macrossomo e para revelar o cuidado e o carinho que cada pessoa merece como representante das infinitas faces que O compõem.
Finalmente, é aconselhável que o Astrólogo mantenha um fichário atualizado de seus clientes, contendo nome e endereço completos, telefone, nomes de membros da família que já fizeram mapa astral, bem como registro de informações importantes, visando coletar material para estudo e acompanhamento de casos.
Todas essas recomendações, no entanto, não terão nenhum sentido se seguidas apenas como prescrições técnicas; é preciso lembrar que o Mapa Astral é composto de símbolos esotéricos, de grande poder mágico e alquímico, capaz de transmutar matéria grosseira em energia refinada. A entrevista ultrapassa de muito o simples encontro de profissional e cliente, pois ela contém em si a semente iniciática, que eleva a alma a dimensões mais sutis da realidade, em direção aos Anjos e aos Mestres Ascensionados.
Para encerrar, reproduzo aqui algumas palavras da Taróloga Mônica Giraldez a respeito da entrevista de Tarô que, no entanto, aplicam-se também a uma consulta astrológica:
“Mas para produzir ouro devemos ter ouro e, neste sentido, põe-se em jogo nossa ética pessoal. Somente se nós realizamos de maneira constante a transmutação de matéria grosseira até purificá-la em maior medida seremos capazes de realizar eficazmente nossa tarefa.” [1]




[1]“El Tarot en la Nueva Era”, Mónica Giráldez.

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