quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A INTUIÇÃO




Da obra "As Grandes Mensagens", do Dr. Serge Raynaud de la Ferriere, II Mensagem, p. 136.

O termo intuição, assim como qualquer termo da linguagem humana, tem o inconveniente de empobrecer e deformar, singularmente, a realidade que representa, e para designar um conceito novo, apesar de definir estritamente o sentido e delimitar rigorosamente o seu uso, sempre produz uma espécie de ressonância dos significados ou das antigas acepções da palavra e a imensa maioria dos homens, cedendo à inclinação natural da inteligência e da atividade humanas, logo reduz a cousa o termo e o próprio termo a seu significado comum. Também é verdade que a maioria dos homens pensa mais "através" de idéia "confeccionada" que por idéia estudada.
Assim, Bergson teve que escolher uma palavra para qualificar esta exigência do esforço intelectual e ficou definida a doutrina bergsoniana como "intuicionista". Desde então, este "intuicionismo" foi admirado ou criticado sem a preocupação exata com o que Bergson quis dizer com esta palavra.
O sentido de um termo se define quase sempre pelo uso que se faz dele, do mesmo modo que o alcance de um método se manifesta, não pela definição que lhe é dada, mas pelas aplicações que dele são feitas. É, portanto, contrário a todas as regras da lógica e da razão fazer um juízo de um método intuitivo sem antes ter estudado suas aplicações.
A maioria define intuição como um processo místico, talvez irracional e até anti-racional, e que escapa a todo controle. Reduzem, então, a intuição a algo dependente da própria palavra que o designa e que é por eles tomada no seu sentido ordinário. Vêem-na com um caráter de adivinhação instintiva, de pressentimento vago, e sobretudo carente de razão definida. Semelhante interpretação está muito longe da mente do verdadeiro investigador.
Nós mesmos julgamos que se devem considerar as expressões de Bergson, pois não se pode exigir que um filósofo conheça todas as ciências, nem que possua a fundo alguma, embora se especialize nela, porque, em nossa época, o problema do uso do tempo é como a quadratura do círculo. Mas é necessário que o filósofo seja capaz de assimilar as ciências indispensáveis aos seus estudos, que esteja atualizado, a fim de poder seguir aprofundando-se e chegar ao progresso correspondente. E isto é impossível: Bergson o demonstrou e, pode-se afirmar, sem nenhum temor. Este filósofo em sua filosofia se mostrou mais cientista que a maioria dos cientistas. A intuição não evita o trabalho intelectual, ela o coroa, acaba e aperfeiçoa; é a capacidade do que sabe, em ordem qualitativa. O diagnóstico do médico, por exemplo, é uma intuição obtida lenta e laboriosamente, o que prova que a intuição nem sempre precede nem evita a reflexão discursiva e o pensamento analítico. A intuição, pois, encontra-se em estado natural nos nossos pensamentos, e devemos preparar-nos para ela por uma lenta e conscienciosa análise; familiarizamo-nos com todos os documentos que se refiram ao objetivo do nosso estudo.
O conhecimento científico e preciso dos fatos é a primordial condição da intuição metafísica que penetra o princípio.
Já não é no sentido de "pressentimento" que se há de compreender a intuição, mas pela espontânea sensação, a compreensão imediata do fato resultante de nossas investigações, o resultado rápido da interpretação de nosso conhecimento.
O termo "acaso" é demasiado fácil para fazê-lo intervir, pois uma hipótese não pode harmonizar com a magnífica lei que afirma não haver efeitos sem causas, nem causas sem efeitos.

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