sábado, 17 de novembro de 2012

O TRIPLO DESTINO



Apêndice IV da obra

“La Astrologia esotérica recobrada”,
de Georges de Villefranche.
Tradução de Zilá P. Saldanha

E
m todas as épocas, o homem se perguntou em que medida seu tema astrológico predeterminava seu destino.  É interessante saber como a tradição esotérica via o difícil problema do determinismo astrológico.
Em La porte des Dieux analisamos por que os corredores da Grande Pirâmide possuíam uma encruzilhada onde se cruzavam as passagens descendente e ascendente.
Ao entrar neste extraordinário monumento iniciático, o adepto começa por descer a um corredor baixo, cuja inclinação está calculada segundo o simbolismo esotérico. Esta primeira parte do circuito sagrado mostra como o homem, no começo de sua vida, é naturalmente levado por uma gravidade do destino; como uma pedra, cai naturalmente sob o efeito da gravidade. É o período em que o homem sofre sem ter ainda consciência do determinismo de seus signos astrológicos, quando é arrastado a um comportamento determinado de antemão por seu caráter astral.
Depois de ter percorrido um terço desse corredor descendente, o adepto chega a uma encruzilhada, o cruzamento dos caminhos, o momento da escolha voluntária. Vimos em nossa “Doctrine Secrète”, que esse terço correspondia simbolicamente à idade fictícia de 33 anos, ou seja, 100/3. Ali abrem-se diante dele dois caminhos. Ou bem continua o caminho descendente, que o levará inevitavelmente à câmara da loucura, situada no nível subterrâneo, onde tudo está às avessas: ali continuará sofrendo a gravidade natural de seu primeiro destino e verá como se acentuam todas as características negativas de seu tema astral, o que os gnósticos chamavam “a corrupção do destino”. Ou bem, ao contrário, apanha seu destino e se dirige para o corredor ascendente cuja inclinação é igual à do corredor descendente mas para cima. Poderá então dar valor às características positivas de seu tema astral e dominar seu próprio determinismo pelo conhecimento, pela lucidez, pela inteligência e pela vontade. Terá “resgatado” a perigosa corrupção do destino, como dizia a seita gnóstica dos Perates, cujo nome significa precisamente “resgatar”. Aqueles que não tenham percebido a encruzilhada terminam por converter-se em caricaturas dos signos astrológicos á medida que a idade avança e se manifestam as piores características.
Homem e não pedra, o iniciado compreende que em seu destino profundo encontra-se inscrita a necessidade de opor-se a seu destino primitivo determinado pelos astros. Descobre a verdadeira liberdade. Os deuses sempre propõem mas é o homem quem dispõe. Retorna à evolução zodiacal que durante um instante esteve ameaçada pela “corrupção do destino”. Franqueará as portas. A mais importante delas é a de Escorpião-Sagitário.
No monumento, o adepto entrou no nível da superfície, que é normal, já que o primeiro nascimento é uma encarnação, uma entrada no real da superfície. O primeiro corredor o levará ao nível subterrâneo e a primeira encruzilhada o fará voltar ao nível do homem. Por isso, o corredor ascendente leva ao mesmo nível que o da entrada até a segunda encruzilhada. Ali, novamente, o adepto vê dois caminhos: um continua horizontalmente no nível do homem da superfície (nível 2) para levá-lo até a câmara chamada impropriamente “câmara da Rainha”. O outro sobe longo e glorioso, conforme a cifra sagrada de 28 e o leva ao nível celeste para terminar na câmara da iniciação, chamada “câmara do Rei”. A câmara da Rainha está exatamente sob a câmara real e contém uma estátua que era o dobro do Rei e representava então seu envoltório corporal. Esta câmara do nível 2, a do Filho encarnado na matéria, não era um lugar maldito, bem ao contrário: ali a realidade devia ser assumida.
Esses conceitos de duplo (ou inclusive triplo) destino e de escolha voluntária existiam entre os egípcios e mais tarde se perderam. Encontramo-los ainda entre alguns gnósticos cristãos dos primeiros séculos.
Perceber a encruzilhada e mudar a descida em subida por opção, compreende a necessidade dessa opção para a sobrevivência do homem: este era o começo da iniciação.
Essa encruzilhada, então, era muito semelhante à Porta dos Deuses e corresponde perfeitamente à passagem Escorpião-Sagitário. Encontramos ali o trigrama chinês do “Ser vivo” e no quarto dedo, o anular.
A escolha do caminho se decide por meio da inteligência e por isso é Hermes-Mercúrio quem preside as encruzilhadas. Esse poderoso símbolo encontra-se descrito na sexta lâmina maior do Tarô, O Enamorado, correspondente à sexta letra do alfabeto sagrado, Vav. Um homem jovem hesita diante de dois caminhos que lhe indicam duas mulheres: uma, à sua esquerda, jovem e bonita, mostra-lhe o caminho descendente, e a outra, à sua direita, velha e séria, mostra-lhe o caminho ascendente. Sobre eles, um anjo prepara-se para atirar sua flecha (o Arqueiro).
A letra Vav corresponde a esta lâmina e possui dois valores, o 6 e o 9. São os dois emblemas das duas opções.
É assim, pois, que na Astrologia Esotérica se desvelam todos os segredos profundos de nossos mundos interiores e todos os elementos do duplo destino do homem e do ser humano. É a descrição mais perfeita das harmonias universais e dos laços entre a vida e o universo, entre as vidas e os universos.
No plano astrológico, vemos que a interpretação de um tema natal depende do ponto de evolução onde pode encontrar-se o nascido no circulo iniciático que simboliza sua vida. Um signo zodiacal, igualmente a um planeta, possui características que podem parecer primitivas e negativas num determinado grau de evolução, para mostrar-se evoluídos e positivos em outro nível. Se o homem não atravessa as portas sagradas da evolução, os lados primitivos se exagerarão.
É difícil, se não impossível, descobrir à primeira vista de um tema natal, o grau de evolução do sujeito. É necessária muita atenção para descobrir as relações entre os cumes das cruzes e as dos triângulos. Os temas dos ascendentes dos pais e avós podem esclarecer muito sobre a evolução na hereditariedade.
Por isso, é somente a título de ilustração que daremos alguns paralelos simplificados entre as características deterministas e involutivas  de um signo e suas características livres e evolutivas. Um exame atento do tema pode permitir encontrar regentes sutis dos signos de que já falamos.

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